No último dia 7 de Setembro houveram manifestações massivas em todo país como vem ocorrendo nos últimos meses, no entanto, desta vez houve uma diferença substancial em relação aos atos anteriores: os bolsonaristas também foram às ruas. O Dia da Independência proporcionou algo que não havia ocorrido até então: apresentar a correlação de forças diretamente nas cidades de todo país.
Apesar de ter sido convocado como um "ultimato ao STF" e receber quantia de dinheiro significativa - que aliás, deve ser apurada - os atos convocados por Bolsonaro ficaram muito distante da mobilização esperada, tendo força considerável em apenas duas cidades: São Paulo e Brasília; e pouca ou quase nenhuma inserção no interior do país. Por isso, o financiamento, transporte e preparação de meses, deixa explícito que o que houve no 7 de Setembro não foi apenas um ato qualquer para a direita bolsonarista, mas sim um ato de força, um tudo ou nada para suas intenções golpistas, ao menos neste momento.
De modo contrário, certos setores da esquerda buscaram desmobilizar o Grito dos Excluídos, ato tradicional que ocorre no dia 7 de Setembro a quase 30 anos seguidos, argumentando que ir às ruas seria perigoso diante das ameaças de golpe e que os manifestantes serviriam de bode expiatório para o aumento da repressão. Cabe, contudo, a pergunta: se os trabalhadores e estudantes acatassem o alarmismo, temessem ir às ruas e assim não realizassem o maior Grito dos Excluídos dos últimos anos, o que teria ocorrido nos dias seguintes?
Nesse ínterim, é curioso notar que algumas figuras que buscaram desmobilizar o Grito dos Excluídos estejam se preparando para participar de atos no dia 12 de Setembro, juntamente à parte da direita neoliberal, que até pouco tempo era aliada direta de Bolsonaro e que ainda hoje defende o mesmo programa econômico.
Apesar do alarmismo e espírito derrotista de tais setores, os atos cumpriram sua missão. E os estudantes também. Seja através do Movimento Correnteza, entidades, agremiações ou associações, os estudantes, juntamente aos trabalhadores, foram às ruas do Brasil denunciar as bravatas golpistas e autoritárias de Bolsonaro e do exército, o genocídio executado durante toda pandemia, os cortes na educação, o ataque ao serviço público brasileiro entre tantas outras questões.
Ainda no mês de junho, Leonardo Péricles, presidente da Unidade Popular (UP) escreveu no jornal A Verdade, em um texto intitulado "Reflexões sobre o rumo da luta pela derrubada do Governo Bolsonaro", que as organizações de esquerdas deveriam
"Ir pra cima, marcar uma manifestação que afronte os fascistas e o atual presidente. Isso que se espera de uma esquerda que mereça ser chamada como tal. E um ato, se convocado conjuntamente por todas as organizações de esquerda, tende a ser grande em todas as grandes cidades do Brasil".
E, apesar das adversidades, assim foi o Grito dos Excluídos. Graças à mobilização nas ruas, as intenções golpistas, que ficaram escancaradas durante os últimos meses, culminaram na vexatória carta escrita por Bolsonaro com ajuda de Michel Temer.
Contudo, é preciso destacar que mesmo com sua popularidade derretendo a cada dia, Bolsonaro ainda conta com uma base firme de seguidores, demonstrada nos atos. Desse modo, a essa altura a principal lição já foi aprendida por quase todos aqueles que deveriam aprendê-la: fascismo só pode ser derrotado nas ruas, e não nas urnas.
O que se fez notar a partir dos atos é o sumário recuo de Bolsonaro; temporário, tímido, trepidante, mas seguramente um recuo. Assim, resta-nos aprender uma segunda e valiosa lição: em matéria de política, todo recuo do adversário deve significar nosso avanço. E o avanço em questão deve ser na mobilização popular, dever que os estudantes certamente saberão cumprir. É hora de avançar.
João Montenegro - Militante do Movimento Correnteza
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