Não é novidade que os estudantes indígenas enfrentam enormes desafios para ingressar e, principalmente, para permanecer nas universidades. A primeira dificuldade apontada, principalmente para os estudantes aldeados, são os choques culturais, como a adaptação para o português, a saída da aldeia e a lógica acadêmica, que raramente se adapta ou ou sabe acomodar os aspectos culturais dos diferentes povos indígenas. A segunda principal dificuldade enfrentada pelos estudantes indígenas é a falta de estrutura para a permanência, como a falta de moradia apropriada.
Na Universidade Federal de Santa Catarina não é diferente. A moradia estudantil tradicional da universidade, além de não possuir vagas suficientes e apresentar sérios problemas em sua estrutura e organização, também não contempla as necessidades culturais dos estudantes indígenas, havendo diversas denúncias de racismo cometido pela instituição. Algo também importante a ser notado é que a UFSC não permite crianças no seu interior, algo que prejudica a todas as mães estudantes que são forçadas a escolher entre os estudos e a maternidade, e que também atinge as mulheres indígenas.
Assim, os estudantes indígenas da UFSC passaram a reivindicar a construção da moradia estudantil indígena. A reitoria, em 2017, alocou os estudantes em um setor desativado do Restaurante Universitário - sem nenhuma condição apropriada para habitação - com a promessa de que em breve as obras da moradia seriam iniciadas. Acontece que o projeto originalmente apresentado pela reitoria não possuía vagas para receber nem metade dos estudantes indígenas regularmente matriculados na universidade. Além disso, a construção ficaria em um local isolado, de difícil acesso e com pouca ventilação para os moradores. Com a contestação por parte dos estudantes indígenas por uma moradia que contemplasse as necessidades apontadas, a reitoria então congelou o projeto e abandonou os estudantes no RU desativado até então.
Há muito os estudantes indígenas vinham denunciando as condições insalubres e perigosas em que se encontravam, havendo risco até mesmo de incêndio. A gota d’água se deu quando, no início de dezembro de 2021, uma criança indígena sofreu um grave acidente elétrico por conta da falta de manutenção dos chuveiros do local. Por sorte o choque não chegou a ser fatal, mas o descaso da reitoria quase custou a vida dessa criança.
Os estudantes reivindicam agora a construção da moradia estudantil indígena segundo os moldes do projeto elaborado este ano (2021), que conta com quase 160 vagas e foi elaborado pelo departamento de Arquitetura junto aos estudantes indígenas a fim de contemplar suas necessidades e respeitando seus diferentes aspectos culturais.
É importante ressaltar que essa luta diz respeito à ampliação das políticas de permanência estudantil como um todo, mas principalmente ao combate do descaso da reitoria e seu racismo anti-indígena demonstrado até então. Os estudantes indígenas querem viver e estudar com segurança e dignidade! Pela permanência indígena nas universidades! Pela construção da moradia estudantil indígena já!
Juliana Mendonça - estudante de psicologia da UFSC e militante do Movimento Correnteza
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