Nesta última segunda-feira, 15, aconteceu a primeira consulta paritária à comunidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para a escolha da reitoria que assumirá a gestão da universidade. A votação foi feita de forma online e o processo está sendo conduzido de forma informal pelas entidades representativas dos estudantes, técnicos administrativos e professores. Apesar da vontade dos golpistas, foi a primeira vez na história da universidade que a consulta foi conduzida pela comunidade e de forma paritária.
O resultado do cálculo paritário indica a vitória da chapa 3, de Márcia Barbosa, aliada ao governo nacional e com forte influência do PCdoB, com 36,76%. Logo atrás ficam a chapa 2, da direita, com 31,88%, seguida da chapa 1, construída e apoiada pelo Movimento Correnteza, com 31,35%. Embora esse tenha sido o resultado divulgado pelas entidades representativas, a Chapa 2, juntamente com setores golpistas da universidade auto proclamaram vitória. Os golpistas, que tiveram a maioria dos votos dos docentes, alegam que a consulta não pode ocorrer de forma paritária por conta das decisões judiciais e passam por cima da vontade democrática da comunidade que há anos luta pela paridade entre os três setores. Exemplo disso, foi a votação histórica que levou mais de 17.636 pessoas às urnas para dar um basta à intervenção fascista de Carlos André Bulhões.
Embora o Conselho Universitário tenha aprovado a paridade na consulta em novembro de 2023, o processo vem sendo perseguido pelo atual reitor interventor, Carlos Bulhões, indicado Bibo Nunes e referendado por Bolsonaro em 2020. Desde lá, Bulhões já sofreu dois processos de destituição, porém ambos foram engavetados. Como é do feitio de um fascista, Bulhões tem judicializado a consulta e criminalizado conselheiros que votaram e defenderam a paridade. A votação que irá indicar a lista tríplice ao Ministério da Educação será feita no Conselho Universitário marcado para o dia 19 de julho. Grupos de esquerda e defensores da paridade marcaram ato para barrar a tentativa de golpe que está em curso.
Luta pela paridade
A luta pela paridade é histórica, com relatos de mobilizações estudantis na UFRGS desde o início da ditadura militar. Desde lá, eleição após eleição a luta dos que defendem a democracia tem trazido o debate e mobilizado para que, assim como outras universidades federais, a UFRGS tenha paridade. O Movimento Virada, agrupamento de diversos movimentos e partidos representando os três setores da UFRGS, surgiu por volta de 2015 levantando a bandeira da paridade, autonomia, democracia e transparência. O movimento Correnteza ajudou a fundar o Virada e tem construído nas últimas eleições para reitoria o programa mais avançado, com propostas sobre assistência e permanência estudantil e a luta contra a matrícula provisória.
O Correnteza e seus representantes discentes, que ocuparam a presidência da comissão e foram relatores do parecer que deu origem a primeira votação favorável a paridade no conselho universitário. A luta pela paridade se juntou inevitavelmente à luta contra o fascismo e pela destituição da intervenção. “Sabemos que o caminho ideal é a o fim da lista tríplice e o voto direito e paritário para a reitoria. Enquanto isso não é possível, temos que encontrar brechas na lei para que a consulta possa ser feita de forma democrática. Acabar com a lista tríplice é fundamental para jogar na lata do lixo essa lei da ditadura militar que intervém nas universidades”, fala Samara Garcias diretora do DCE da UFRGS e conselheira universitária pelo Mov. Correnteza.
Bancada do Correnteza no dia da votação da paridade, novembro de 2023.
Direita amplia presença no Conselho Universitário
No último dia 12, tomaram posse novos conselheiros no Consun após uma eleição para representantes docentes e técnicos. A direita ampliou suas cadeiras no conselho, levando quinze das dezoito cadeiras para professores. Embora a esquerda tenha ganho sete das nove cadeiras dos técnicos administrativos, o peso dos professores dentro do conselho ainda é maior. A sessão contou com várias falas legalistas, defendendo que o resultado da consulta deveria ser 70/15/15, demonstrando abertamente seu repúdio à fórmula paritária, ou com alguns conselheiros sentindo-se intimidados pelos pareceres emitidos pela justiça contrários à paridade. O impacto já foi observado na eleição para comissões que contaram com placares de cinquenta votos contra quinze para os candidatos da direita.
Nos últimos quatro anos de intervenção a direita liberal estava desarticulada, e setores governistas estavam enfraquecidos após a derrota de Rui Oppermann na última eleição para reitoria. O combate ao fascismo, contra a intervenção e pela democracia abriram espaço para o avanço de pautas importantes como cotas na pós-graduação, restrição da matrícula provisória, destituição, paridade, avanços nos direitos das mulheres e de pessoas trans. Por outro lado, as decisões do Consun foram constantemente desrespeitadas pelas reitoria interventora, expressando ainda mais os limites da legalidade.
Só a mobilização pode garantir a vitória da paridade
Dadas as contradições presentes, a garantia da paridade nessa consulta só se dará na base de uma grande mobilização que freie qualquer tentativa de golpe e que constranja todos os conselheiros legalistas que se encorajarem a votar contra a vontade da comunidade. Reitora eleita é reitora empossada! O Movimento Correnteza convoca toda sua militância a mobilizarem os estudantes e a comunidade da UFRGS a se colocarem na linha de frente contra esse golpe contra a paridade. É necessário mobilizar Centros acadêmicos, entidades gerais, turmas e todos aqueles que defendem uma UFRGS mais democrática. Derrotar Bulhões e os golpistas é mais um passo que devemos dar para derrotar o fascismo no Brasil e avançar na democracia universitária.
Concentração para a vigília no dia da votação da destituição do Bulhões.
Por Everaldo Oliveira
Diretor da UNE
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